EDITORIAL DA TOM MAIOR: É coisa de preto

"É Coisa de Preto" é um enredo afirmativo, que mostra que a contribuição de negros e negras para a formação de nossa nação vai muito além do estereótipo. Nosso desfile mostrará como os africanos se tornaram afro-brasileiros e trouxeram sua contribuição não só física, mas (principalmente) intelectual no desenvolvimento de nossa sociedade. Líderes, estudiosos,escritores, poetas, artistas populares e eruditos, transgressores sociais... Personagens que o preconceitoinsiste em ofuscar de nossa história, mas que devem ser trazidos aos holofotes para o devido reconhecimento, e também para inspirar as novas gerações.



A partir da subversão de uma expressão racista, mostramos que "Coisa de preto", "serviço de preto", "arte de preto" na verdade são alguns dos pilares essenciais de nossa sociedade, escancarando que ignorante é quem desconhece a verdadeira importância de negros e negras
em nossa história.

Para esta narrativa, lançamos mão de recursos literários contidos na chamada "Jornada doh herói, estrutura narrativa típica consagrada no storytelling. Após a introdução do tema, sintetizada na figura da travessia do atlântico para a formação de uma nova nação, agrupamos
as diferentes personalidades retratadas em "arquétipos". A palavra de origem grega (arche) significa "marca" ou "impressão", e é conceituada por Jung como conjunto de imagens primordiais que dão sentido às histórias passado entre gerações, formando o conhecimento e o
imaginário do inconsciente coletivo.

Na narrativa da jornada do Herói, de Joseph Campbell, o autor enumera alguns modelos essenciais que norteiam a narrativa épica, alguns dos quais serão utilizados para agrupar os personagens retratados. É certo que cada um destes elementos apresenta características de mais de um arquétipo. Porém, o agrupamento se faz necessário na apresentação para melhor compreensão da estrutura de enredo pelo público presente.

Uma das principais mensagens de nosso Enredo 2020 é mostrar ao público que o talento, a sensibilidade e a inteligência não dependem da cor da pele. O discurso racista reiteradamente escondeu a participação de negras e negros nas grandes construções e conquistas de nosso país. Rotineiramente nega a presença indispensável de pretas e pretos na elaboração das artes ditas “de branco”.

Nosso lema 2020 é um sonoro não a essa leitura excludente que tanto vitimou brasileiros ao longo de nossa história.

Citando Paulo Freire, quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor. E essa não é, nem será, a lógica de nossa escola. Não criamos um enredo sobre a supremacia negra. Criamos um enredo sobre igualdade, que denuncia a negação. E, por isso mesmo, não podemos repetir os mesmos crimes que denunciamos.

Nossa escola nasceu e se mantém da união de negros e brancos, católicos, evangélicos e judeus, ricos e pobres. Por isso, não toleramos comportamentos que excluam quem quer que seja por motivos de cor de pele, classe social, orientação sexual ou crença religiosa. Nosso samba sempre foi e sempre será plural. Uma arte negra, para a qual muitos judeus contribuíram em seu crescimento. E é graças à contribuição de todos que o samba segue em evolução.

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